quinta-feira, 26 de maio de 2011

Notícia do dia: Belenenses foi campeão há 65 anos


Belenenses... e Sevilha. A primeira época futebolística do pós-guerra (45/46) revelou dois campeões inéditos na Península Ibérica - curiosamente, quer os azuis do Restelo, quer os sevilhanos não mais voltaram a ocupar os respectivos tronos. A ponta final do Campeonato Nacional de 1944/45 já mostrara um Belenenses forte de mais para a concorrência, de que são exemplo as duas goleadas históricas em jornadas consecutivas: 15-2 à Académica e 14-1 ao Salgueiros. E alguns meses depois, os azuis conquistam o sexto e último título de campeão regional de Lisboa, também aí não concedendo quaisquer hipóteses aos rivais Benfica (2-0 e 0-1) e Sporting (2-2 e 4-2). No final, a turma das Salésias regista apenas uma derrota - a tal com os encarnados e quando o primeiro lugar já estava há muito assegurado - e tem o melhor ataque (29 golos) e a defesa menos batida (9, à frente da do Sporting, com 20).



Para a época seguinte, o técnico Augusto Silva, um dos jogadores mais internacionais da sua geração e presente na primeira aventura oficial da selecção (Jogos Olímpicos-1928, em Amesterdão), molda uma equipa de respeito, com vista ao assalto ao título. Uma defesa de betão, constituída pelas Torres de Belém (o guarda- -redes Capela mais os defesas Feliciano e Vasco, famosos pela sua envergadura física e pelos seus confrontos com os Cinco Violinos do Sporting) e uma ala direita fenomenal (Quaresma, o tio-avô do "trivelas" do FC Porto, e Andrade, autor de 19 golos em apenas 14 encontros), sem esquecer o capitão Amaro e o ponta esquerda Rafael.


O arranque até é auspicioso, mas a recepção ao Atlético e a deslocação ao terreno do Benfica revelam-se pouco acertadas. E à décima jornada soa o alarme: derrota em Olhão, no segundo e último encontro em que a equipa fica em branco. Além de perder o jogo, o Belenenses perde a liderança para o Sporting e perde também o concurso do guarda-redes Capela, lesionado num ombro. É um duro golpe para os lados de Belém, que só voltam a ter o seu titular da baliza em Coimbra (3-1), numa tarde em que os adeptos estudantis aplaudem longamente o regresso às lides de Capela, num gesto de grande elevação.


Segue-se então um ciclo de oito jogos só com vitórias, entre as quais a goleada à Oliveirense (10-0), a segunda maior do campeonato, após os 11-0 do FC Porto ao Atlético (curiosamente o Atlético fica à frente do FC Porto no final da prova). Apesar desta manifestação de eficácia, é o Benfica quem na altura comanda, com um ponto de avanço sobre os azuis. É preciso esperar pelo confronto entre ambos para o Belenenses ultrapassar o Benfica, à conta de uma vitória por 1-0 nas Salésias, golo de Andrade (70'), o mesmo que atirara à trave de Martins, no começo do jogo. A liderança passa de novo a pertencer-lhe, mas faltam ainda três jornadas e a seguinte, no Estádio do Lima, com o FC Porto, obriga a sacrifício extra. O "Belém" passou no teste e adia-se tudo para a derradeira ronda, em Elvas.


O Belenenses pernoita em Estremoz e tem de ganhar à filial do Benfica (Sport Lisboa e Elvas) para receber as faixas. O empate não chega e ainda por cima o Benfica tem um jogo relativamente tranquilo, em casa, com o V. Guimarães (oitavo classificado).


Nesse histórico jogo, a 26 de Maio de 1946, dirigido por Domingos Miranda (Porto), as equipas apresentaram:


ELVAS - Semedo; Ameixa e Sans; Rana, Alcobia e Rebelo; Morais, Massano, Patalino, Aleixo e Quim.


BELENENSES - Capela; Vasco e Feliciano; Amaro, Gomes e Serafim; Armando, Quaresma, Andrade, José Pedro e Rafael.


No Estádio Municipal, em Elvas, o jogo começa e nem passam 180 segundos quando o avançado Patalino, o mais mediático alentejano do futebol português, marca a aproveitar uma fífia de Serafim. Até ao intervalo, o resultado mantém-se. Com a vitória do Benfica no Campo Grande (2-0 ao V. Guimarães), o Belenenses baixa para o segundo lugar. É aí que Quaresma acorda os colegas. "Disse-lhes para se acalmarem e jogarem o que sabiam. Sobretudo o Andrade, que nos tinha ajudado tanto a chegar até ali e agora estava menos energético que o habitual. Tal como o Rafael. Tínhamos de fazer qualquer coisa para sair daquela apatia. Eu estava inconformado com a nossa exibição na primeira parte", desabafa Quaresma, ao i, desde sua casa, lá para os lados do Barreiro.


O que acontece? O Belenenses reage. É o denominado "quarto de hora final à Belenenses", a sua imagem de marca de então. Andrade empata aos 60 minutos, na sequência de um livre de Armando, a castigar falta sobre Vasco. E aos 75' é a vez de Rafael estabelecer o 2-1, após assistência de Quaresma.


É a festa. Os adeptos que acompanham a equipa, quer de comboio (dois são fretados exclusivamente para o efeito), quer em viatura própria, fazem a festa logo ali, em Elvas, que nunca tinha assistido a tamanho "desvario". No dia seguinte, os campeões almoçam em Évora, a convite do presidente da câmara local, e depois de uma viagem até ao Barreiro chegam de barco ao Cais do Sodré. Daí para a sede do clube, em Belém, é a confusão, com milhares de simpatizantes a obrigarem o autocarro dos azuis a frequentes paragens, para vitoriarem a equipa e o seu técnico, Augusto Silva.


Isto acontece na primeira metade do século passado, mas a verdade é que o Belenenses não conseguiu repetir a proeza - e até já desceu de divisão em quatro ocasiões, onde ainda se encontra. Por isso, esse histórico 26 de Maio de 1946 continua gravado na memória dos seus adeptos: o dia em que o Belenenses, o clube da Cruz de Cristo, se sagrou campeão nacional.

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2 comentários:

Anónimo disse...

isto é daquelas noticias que nao interessam a ninguem..

Unknown disse...

acho que vou desautorizar anonimos de comentarem pq otários que se escondem atrás de anonimidade não merecem palavra