Na última temporada, o FC Porto ganhou o prémio de melhor actor (Hulk), melhor actor secundário (Falcao), melhor realizador (André Villas-Boas) e até melhor argumento, graças à reviravolta na eliminatória da Taça de Portugal frente ao Benfica. Para este ano as expectativas cinematográficas voltaram à estaca zero, mas os nomeados são praticamente os mesmos. O Kodak Theatre à portuguesa conta agora com a participação de Gil Vicente e Feirense, que entraram para os lugares de Naval e Portimonense, que este ano estão mais ao nível dos razzies. Aproveitando o espírito, o i decidiu associar um filme a cada uma das equipas. Já sabe, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidencia
Luxo e ostentação. Um plantel gigante, milhões de euros desbaratados na compra de jogadores. Mas se por acaso as coisas correrem mal – fome em França ou derrotas na Luz – as cabeças começam a rolar. E a de Jorge Jesus é a primeira na fila para a guilhotina, como aconteceu
Seres azuis de um planeta à parte resistem a plantéis reforçados de invasores ano após ano. Nem a artilharia mais pesada consegue demover estes seres mágicos com uma estranha obsessão por uma planta que foi lá plantada há uma eternidade
O repetitivo filme de 2008 encaixa no repetido entusiasmo de início de época. “Mamma Mia!, cá vamos nós outra vez”, canta-se com ânimo. Até que nos versos seguintes se lamenta: “Sim, eu fiquei de coração partido”, numa clara referência aos resultados de outras épocas.
“Encontros Imediatos do Terceiro Grau”
Dura há anos a conversa sobre o quarto grande. Um assunto quase místico, abordado com cepticismo científico ou comentado com a paixão de um ovniólogo. Há vida nos outros planetas? Estamos sozinhos? Quem é afinal o quarto grande?
Porque o discurso do seu treinador, Manuel Machado, é “cinema de autor”. Ou seja, da mesma maneira que os filmes tipo David Lynch são descritos como “lynchianos”, de cada vez que alguém se perde em construções frásicas paquidérmicas é tido como praticante do “manuel machadês”.
Só porque o primeiro jogo do Marítimo é contra o Beira-Mar e o excesso de referências aquáticas lembra este filme, um dos que mais água meteram na história recente de Hollywood.
Mas ao contrário. Em vez de ser um ocidental enviado para as Arábias, é um milionário árabe que aterra em Aveiro para fazer os adeptos do clube sonhar com injecções irresponsáveis de dinheiro. Majid Pishyar já fez saber que quer fazer do Beira-Mar o quarto grande, sinal de que deve precisar de muito espaço para o seu harém.
Não porque vão viver momentos de verdadeira glória, mas porque vão jogar como naquela famosa cena
de corrida à beira-mar: em câmara lenta, de forma muito dramática, ajudados pela música de Vangelis.
“Um Vagabundo na Alta Roda”
Nesta fita de 1986, Nick Nolte faz de sem-abrigo que, num golpe de sorte, consegue viver a vida de um milionário. Mas, como é frequente escrever-se nas sinopses, “nem tudo é o que parece”. E o nosso protagonista depressa percebe que o lugar dele não é na alta roda da sociedade. Perdão, do futebol.
“Um Porquinho Chamado Babe”
No início do filme ninguém dá nada por Babe – a não ser um futuro promissor enquanto leitão assado. Mas o pequeno e discreto porco consegue provar que é mais do que um suíno de carne tenra. Da mesma maneira que o Paços de Ferreira pode surpreender com uma equipa jovem e determinada.
U. Leiria“O Feiticeiro de Oz”
Porque jogadores e técnicos vão continuar a acreditar, tal como a cândida Dorothy, que basta dizer três vezes “there’s no place like home” para voltar a casa. Não vai funcionar. Os desgraçados vão mesmo ter de ir e vir à Marinha Grande para jogar e treinar.
É a 11.ª época de Carlos Brito como treinador do Rio Ave e o plantel tem poucas novidades. Tudo indica que os suspeitos do costume vão fazer mais do mesmo. Isto é, ficar a meio da tabela. No entanto, uma reviravolta pode fazer com que este filme tenha um final feliz. Ou não tivesse o Rio Ave contratado um jogador com esse nome.”
Com sede em Olhão, é o clube que mais quilómetros vai fazer durante a época. Aconselha-se calma e prudência no asfalto e uma atitude mais radical junto à erva, como no filme de Dennis Hopper. Não menosprezar o clube que, nesta pré-época, venceu o 27.º Troféu António Concepcion Reboura ao golear o Ayamonte.
Tal como os monstros deste filme-xaropada das tardes de domingo, o Gil Vicente passa grande parte do tempo debaixo do chão – i. e. na segunda divisão – e quando assoma à superfície há logo um magote de gente a querer acabar com ele. O primeiro jogo é logo contra o Benfica, para não se habituarem.
“O Insustentável Peso do Trabalho”
Porque é um filme sobre o mundo do trabalho, a luta para ser promovido ou evitar a despromoção. É nesse segundo ponto que os “estudantes” (sempre com aspas, não vá alguém desconfiar) têm de se aplicar nesta época.
Dívidas, salários em atraso e processos em tribunal. Devia ser um drama sobre administração de empresas. Mas como nunca foi gravado um filme desses, recomendamos “Afirma Pereira”, fita com Mastroiani que não tem nada a ver, mas se estivermos distraídos pode soar a “A Firma Pereira”. E isso podia bem ser um filme