domingo, 1 de maio de 2011

demo kratos


A escolha do partido, numa época em que a massificação e a globalização nos leva a procurar nichos identificativos em todas as esferas da nossa vida, é uma das decisões mais marcantes que podemos tomar enquanto membros inseridos num sistema democrático.

Há algumas décadas que se tem vindo a extremar* a apetência do consumidor para nichos de mercado. Cada vez mais surgem grupos smi-fechados, com culturas próprias e produtos específicos, construídos smi-artificialmente para satisfazer a necessidade das pessoas se sentirem individualizadas, mas ao mesmo tempo integradas, na massa social.

E não sendo própriamente um produto (se bem que isto também é em grande parte discutível), também a política conquistou o seu lugar neste tipo de pensamento.

A pergunta "Em que partido devo votar?", ou mesmo "Com que partido me identifico?", é uma que imagino que qualquer pessoa minimamente informada já tenha feito a si mesma, até porque dificilmente um partido corresponde exactamente às opiniões pessoais de cada um. E no entanto, a resposta torna-se cada vez mais infundada, apoiada em trechos de discursos e debates que são transmitidos pelos media. A personalização da política, onde há um "bom" e um "mau", é um dos factores que mais prejudica o funcionamento correcto do modelo de democracia actual, e é um sintoma da falta de diferenças reais entre os principais partidos: à falta delas, parte-se para a dualização e dramatização da vida política.

Além disso, ser afiliado a um partido tem implicações em toda a vida social, e é mais uma característica de identificação, quase como o estilo de roupa, o gosto musical e o corte de cabelo. A maioria das pessoas desconhece as propostas dos partidos ou as forças parcialmente ocultas que as influenciam. Escutam, com pouca atenção, o Jornal da Noite, e lêm as manchetes de poucos jornais.

E depois, confrontam-se com a falta de alternativas. PS ou PSD, ou os restantes partidos que no fundo, questionam a própria estrutura de como a nossa democracia funciona, assustando-nos com radicalismos excessivos (maioritariamente pintados desta forma, novamente, pelos media.)

E haverá realmente tempo para mais? Ou capacidade de entendimento de decisões que cruzam tantas áreas, tantas disciplinas, e com implicações tão vastas?

Quantas pessoas mais deixarão de votar, delegando a outros o papel mais importante que podem ter na sociedade democrática, por falta de identificação?

Em quem é que vão votar?


*Eu ia escrever extremizar, quando descobri para a minha surpresa que essa palavra não existia.

Abraço, B.

5 comentários:

Unknown disse...

O ensino de politica e cidadania nas escolas básicas e secundárias devia ganhar urgência para uma sociedade mais informada e participativa mas ninguém quer um povo informado e capaz, querem-se zombies.

Unknown disse...

Ah... este site foi feito para as eleições de 2009 mas acho que continua a ter algum valor, nem que seja pelo interesse na coisa. http://www.bussolaeleitoral.pt/

[lunatic] disse...

Ah pois eu lembro-me disso. Nas eleições europeias também havia um. Mas achas que um quiz é o meio certo? E o problema de ensinar para isso (além da carga horária excessiva que já existe), é que quando começarmos a ensinar coisas deste género, onde é que acabamos? Porque eu também achava importante os jovens aprenderem finanças...

Unknown disse...

Não acho que haja carga horária excessiva e se a há é porque existem disciplinas de merda. Acho que uma cadeira podia incluir politica, cidadania e finanças pessoais. Porque não?!

HARAJUKU disse...

sim, há disciplinas ridículas, tipo área de projecto e educação tecnológica (que é o mesmo!) nas escolas deviam transmitir mais realidade aos jovens porque quando se vêm sozinhos nem sabem o que é o NIF ou o IRS-deprimente!!!