A maçonaria também vota na Assembleia da República?
por Luís Claro, Publicado em 27 de Junho de 2011 | Actualizado há 2 horas
Dois ex-deputados do PS garantem que a maçonaria tem influência nas decisões da AR e na distribuição dos lugares
O assunto é delicado e são poucos os deputados que se deixam embalar na conversa quando o tema é a influência da maçonaria nas decisões da Assembleia da República, mas a eleição de Fernando Nobre veio relançar a discussão sobre até que ponto a maçonaria pretende influenciar as decisões políticas.
O que se sabe é que vários maçons terão entrado em acção para conseguir os votos que faltavam para o ex-candidato à presidência da República - que terá ligações à maçonaria - ascender ao cargo.
Há, pelo menos, dois ex-deputados que não evitam o assunto e revelam que é real o poder da maçonaria em algumas decisões políticas. Henrique Neto, que foi deputado nos tempos em que António Guterres era primeiro-ministro, já tinha abordado o tema publicamente e diz ao i que, a partir de certa altura do seu mandato, começou a perceber que algumas posições "inexplicáveis" assumidas por alguns deputados residiam no facto de estarem ligados à maçonaria. "Há sempre uma quota de pessoas nas candidaturas que não se percebe o que estão ali a fazer, mas a gente sabe quem são", diz Neto, que acusa a instituição de funcionar como "uma espécie de agência de emprego", que aproveita o "secretismo para eleger pessoas para alguns cargos do Estado".
Também Ana Benavente, que foi deputada e dirigente socialista, fala de "um mundo subterrâneo, muito poderoso e que não se assume à luz do dia". "Eu não compreendia algumas decisões e quando, em busca de alguma racionalidade, procurava alguma explicação, o que me diziam era: não te esqueças que ele é da maçonaria."
A ex-governante não tem dúvidas de que a instituição tem influência na vida política e não só. "A maçonaria é um elemento que está presente na tomada de posição política. Funciona como um lóbi com poder na política e nos negócios."
Uma convicção contrariada pelo ex- -grão-mestre do Oriente Lusitano, António Arnaut, que não aceita a tese de que a instituição tem um papel nas decisões dos políticos. "É uma regra absoluta da maçonaria não se envolver na vida política. Não se pode envolver e eu não acredito que se tenha envolvido", diz ao i Arnaut, garantindo que "é contra os seus valores" pressionar decisões políticas.
O tiro de partida - de que a eleição de Nobre estaria assegurada pelos votos dos socialistas - foi dada por Marcelo Rebelo de Sousa, que no seu comentário na TVI garantiu que muitos socialistas poderiam votar por "afinidades que não têm que ver com os partidos". Uns dias depois, Pacheco Pereira, na crónica que escreve na "Sábado", deixou claro que "a maçonaria está a mover-se a favor de Fernando Nobre".
Guilherme Silva, vice-presidente da Assembleia da República, reage com cautela e garante que, nos muitos anos que leva de parlamento, nunca percebeu que a maçonaria andasse a meter o dedo nas decisões dos deputados. "Eu pessoalmente nunca me apercebi, mas como se trata de uma organização tendencialmente secreta é natural que não nos apercebamos", diz ao i, garantindo que é com "dificuldade" que encara a hipótese de "decisões da Assembleia da República serem motivadas por intervenções ou influências". "Esse tipo e especulação não tem sentido", assegura.
Nobre acabou por não ser eleito, mas não faltam na história do parlamento casos de maçons que chegaram à presidência da instituição (ver caixas ao lado). "É verdade que havia a convicção de que a maçonaria influenciava bastante a eleição do presidente da AR, mas nunca nada ficou provado. O PS era muito conotado com a maçonaria e a seguir à revolução havia essa impressão", diz Narana Coissoró, que foi vice-presidente do parlamento.
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