É visto como um dos gestos mais naturais do desporto e
da vida de cada um mas os créditos pertencem ao basebolista Glenn Burke
O “dá cá mais cinco” é um dos momentos de celebração
mais naturais actualmente. Um golo marcado, uma nota positiva num teste, a
licenciatura, um trabalho feito com distinção, tudo serve para marcar a
felicidade com o braço esticado para cima, batendo com a mão aberta na mão de
outra pessoa, que repete o ritual. É uma acção tão famosa que até Barney
Stinson, um dos personagens principais da série “Foi Assim Que Aconteceu”,
parece pedi-la aos amigos sempre que sente que disse uma piada fenomenal. Mas
quando é que tudo começou? Onde está a origem de uma das manifestações
culturais mais imitadas das últimas décadas?
Domingo, 2 de Outubro de 1977. No último dia da
temporada regular de basebol, os LA Dodgers defrontam os Houston Astros e podem
estar à beira de uma proeza – tornarem-se na primeira equipa a contar com
quatro jogadores a alcançarem pelo menos 30 home runs durante a temporada.
Steve Garvey (33), Reggie Smith (32) e Ron Cey (30) já lá chegaram, Dusty Baker
(29) está próximo.
O home run chegou mesmo. Com 46 mil espectadores em
delírio na bancada, o defesa esquerdo percorreu as quatro bases em ritmo de
festa e quando chegou ao ponto de partida encontrou o rookie Glenn Burke com
uma postura diferente: “A mão dele estava no ar e estava com as costas inclinadas
para trás. Por isso, estiquei o meu braço e bati com a minha mão na dele.
Pareceu-me a coisa certa a fazer”, explicou o actual treinador dos
CincinnatiReds à revista da ESPN em Agosto de 2011.
Burke seria o jogador seguinte a bater e marcou o
momento com mais um home run. Depois, para não estragar o que tinha acabado de
nascer, Dusty Baker decidiu recebê-lo da mesma forma, acabando por lançar o
repto para aquela que seria uma imagem de marca dos LA Dodgers nas temporadas
seguintes e copiada, cada vez mais e cada vez mais rápido, por todo o país.
Glenn Burke não foi um jogador fenomenal e o facto de
se ter assumido gay em 1980, pouco depois de ter terminado a carreira, nunca
ajudou a que fosse reconhecido da melhor forma, mais não seja porque o
treinador dos Dodgers nessa altura, Tommy Lasorda, era visto como uma pessoa
homofóbica e que terá ignorado/esquecido a origem do gesto quando perguntado
por isso anos mais tarde: “Foi só uma daquelas coisas que aconteceu. Quem sabe
como?”
Afastado dos campos dos Estados Unidos, Burke não
deixou de espalhar o gesto por onde passava, especialmente nas ruas de San
Francisco. De acordo com relatos, gostava de ficar parado na estrada, sentado
em cima de um carro a distribuir “dá cá mais cinco” por todos aqueles que passavam
à porta de um bar gay chamado Pendulum Club. No entanto, a vida não lhe sorriu
durante muito mais tempo. Em 1987 estava viciado em droga e partiu a perna
direita em quatro sítios diferentes depois de ter sido atropelado por um carro.
Mais tarde, em 1993, acusou positivo para HIV e morreu em Março de 1995. A
fraqueza física era tanta que de acordo com um obituário publicado na altura,
“o inventor do ‘high five’ já mal conseguia levantar o braço.”
O gesto tornou-se o legado de Glenn Burke e a irmã
Lutha Davis não escondeu o orgulho quando viu um concorrente anónimo do
Jeopardy associar imediatamente Burke à sua criação. “Agora, quando algo de
fantástico acontece na vida, as pessoas fazem o ‘dá cá mais cinco’”, destaca
Lutha.
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